quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Troféu Palmares Especial

Líder negro Abdias Nascimento será homenageado no 23º aniversário da Fundação Palmares

A Fundação Cultural Palmares (FCP), instituição vinculada ao Ministério da Cultura, criou, excepcionalmente neste ano, o Troféu Palmares Especial (pós-morte) em homenagem ao ativista brasileiro pioneiro na luta contra a discriminação racial, Abdias do Nascimento (1914-2011). O ato se deu por meio da Portaria nº 123, assinada pelo presidente da Fundação Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (15). A homenagem acontecerá na próxima quinta-feira (18), às 20h, no Teatro Nacional, em Brasília, e contará com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e de Eliza Larkim, viúva do líder negro de destaque internacional e que receberá o troféu durante o encerramento das comemorações dos 23 anos da FCP.
O Troféu Palmares foi instituído em 2008 para homenagear personalidades brasileiras que contribuem ou contribuíram para a promoção e a valorização da cultura afro-brasileira. A escolha dos agraciados é feita por votação aberta, o que não ocorreu este ano. Por esse motivo, foi publicada a Portaria da FCP.  Em sua 1ª edição, receberam a estatueta a atriz Zezé Mota, a Yalorixá Mãe Stella de Oxóssi e Juca Ferreira. Em 2010, somente mulheres concorreram ao prêmio, tendo sido agraciadas Mãe Neide Oyá D’ Oxum (campo religioso), Chica Xavier (campo cultural) e Alaíde do Feijão (campo social).

Exemplo de luta
Segundo Eloi Ferreira de Araujo, Abdias Nascimento é um exemplo de luta e dignidade. “Precisamos unificar as ações civis, políticas e não-governamentais para acabar definitivamente com o racismo, o preconceito e a discriminação racial e continuar com a luta iniciada por esse importante expoente do movimento negro. Abdias deixa um legado para os brasileiros e para as brasileiras que sofreram e sofrem a mais vil de todas as agressões, que é o racismo e o preconceito racial,” enfatiza.
“Sua luta contribuiu para a elevação da autoestima e responsabilidade do estado brasileiro para com a população negra, tendo em vista assegurar a igualdade de oportunidade no acesso aos bens econômicos e culturais de nosso país. Portanto, a homenagem ao Abdias no Ano Internacional dos Povos Afro-descendentes reafirma o nosso compromisso de prosseguir com o seu legado”, ressalta.
Abdias do Nascimento nasceu no dia 14 de março de 1914, em Franca (SP) e faleceu aos 97 anos, no dia 24 de maio de 2011, no Rio de Janeiro. Em 1929, alistou-se no exército e foi morar na capital paulista, onde anos depois se engajou na Frente Negra Brasileira e se envolveu na luta contra a segregação racial. Bacharel em economia, dramaturgo, poeta e pintor, ele atuou também como deputado federal, senador e secretário de Estado para a Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (Seafro), no Rio de Janeiro, cargo no qual desenvolveu aspectos dessa luta.
Autor das obras Sortilégio, Dramas para Negros e Prólogo para Brancos e O Negro Revoltado, relatou as realidades quilombolas e abordou temas como o pensamento dos povos africanos, combate ao racismo, democracia racial e o valor dos orixás nas religiões de matriz africana.
Abdias conseguiu importantes resultados na defesa e na inclusão dos direitos dos afro-descendentes brasileiros, principalmente, por meio de políticas públicas. Em 1988, tornou-se um dos responsáveis pela instituição da Comissão do Centenário da Abolição e por seu desdobramento na Fundação Palmares. No mesmo ano, a Constituição brasileira passou a contemplar a natureza pluricultural e multiétnica, a prática do racismo tornou-se crime inafiançável e, também pela primeira vez, se falou no processo de demarcação das terras de quilombos.

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